
Ao longo do dia, em quantas atividades se desdobram pais, mães e professores?
Queremos estar presentes quando interagimos com as crianças, mas facilmente somos apanhados por pensamentos sobre o próximo horário a cumprir, o planeamento do dia seguinte, preocupações, e outros pensamentos que insistentemente levam a mente para outro lugar.
É importante refletir sobre isto, porque para a criança, a presença do adulto tem uma influência determinante.
O que realmente acontece quando comunicamos com as crianças?
As crianças são profundamente sensíveis à presença do adulto. A postura, o tom de voz, as expressões faciais transmitem informações que não são verbalizadas. Estas informações são recebidas de forma inconsciente, mas têm um grande impacto na criança. A presença e o estado emocional do adulto é revelado em todos estes detalhes, e é imediatamente percecionado pela criança.
Uma presença estável e equilibrada vai transmitir à criança segurança, estabilidade. Por outro lado, quando o adulto sente ansiedade, cansaço, stress, por melhores que sejam as suas intenções, a qualidade da sua presença não vai ser a mesma.
O primeiro sinal que é percecionado pela criança são as expressões faciais. E quando estes sinais são muito intensos, sobrepõem-se às palavras que estamos a transmitir nesse momento.
Isto acontece de forma muito subtil e a um nível inconsciente, mas pode ser o suficiente para provocar mudanças no estado de humor, pode ser o suficiente para mudar o ambiente, em casa, ou de toda uma turma, na sala de aula.
Mesmo quando temos todo o cuidado com as palavras, se estivermos preocupados, ansiosos ou irritados, este conteúdo emocional é transmitido à criança, não transmitimos apenas aquilo que verbalizamos. E as crianças são particularmente sensíveis a este conteúdo.
A autorregulação começa no adulto
O primeiro passo para apoiar o desenvolvimento da autorregulação na criança é a autorregulação do adulto.
A autorregulação emocional é uma capacidade que se vai desenvolvendo ao longo do crescimento. Nos primeiros anos de vida, a criança precisa do adulto para conseguir lidar com as suas emoções, em particular as mais intensas. Quando a criança se sente fora de controlo, quando sente medo, frustração ou raiva, é o sistema nervoso do educador, a sua voz, a sua presença, o seu olhar, que a vai apoiar. E nestes momentos são solicitados os recursos do adulto, a sua atenção, a sua capacidade para estar completamente presente, para estar com o processo pelo qual a criança está a passar, naquele momento.
Começar a tomar consciência do nosso estado emocional antes de interagir com as crianças é muito importante. Momentos antes de estar com as crianças podemos conferir se estamos verdadeiramente presentes, em momentos como por exemplo: em casa pela manhã, antes de ir acordar os filhos; antes das refeições; ao final do dia, antes de ir buscar as crianças à escola; ou, na escola, antes do professor entrar na sala de aula. Nestes momentos pode ser útil perguntar a nós próprios: “Estou presente? Aqui? Agora?”
Tomar consciência de como nos encontramos no momento, pode fazer toda a diferença na forma como interagimos com as crianças. Estou presente e disponível para elas? Há já muito cansaço acumulado do dia de trabalho? O que estou a oferecer, em termos de presença e de regulação emocional?
Cuidar da presença
Quando praticamos Mindfulness, gradualmente vamos ficando mais disponíveis para nós e para os outros.
Esta prática contribui para cultivar uma presença amável. Oferece a oportunidade de desenvolver a capacidade para estar com as experiências, mesmo as mais desafiadoras, a partir de uma atitude mais aberta e recetiva, e trazer amabilidade à experiência, e a nós próprios, nesse momento.
Oferece também a possibilidade de conquistar estabilidade e equilíbrio. E desta forma é possível enfrentar emoções mais intensas a partir de um ponto de maior estabilidade, adquirimos maior capacidade para lidar com as nossas próprias emoções.
E isto, reflete-se na postura, que é percecionada pelas crianças. O adulto oferece uma presença acolhedora, com abertura e disponibilidade, capaz de conter os estados emocionais mais desafiadores para a criança. Ela sente que o adulto tem o controlo da situação, dedica-lhe a sua atenção e a sua presença por inteiro. A criança recebe esta mensagem de uma forma subtil, mas sabe que está em segurança, num espaço seguro onde consegue encontrar regulação. O adulto torna-se um recurso apaziguador e disponível.
O educador com uma presença aberta, estável, equilibrada, consegue assim oferecer momentos construtivos de interação com a criança, em que esta sente que é seguro experimentar e explorar toda a gama de emoções que o ser humano experimenta, e aprender a lidar com elas de uma forma segura, encontrando condições para aprender a autorregular-se.